Padre Oliveira não consegue se recordar da data da primeira vez em que teve o sonho, apenas tem certeza de que foi no ano de 2003. Permaneceu tendo o mesmo sonho por 16 anos, variando sua frequência entre uma ou duas vezes por semana, ora completo, ora incompleto — quando acordava no meio do sonho. Ao longo dos anos, variavam as pessoas e o lugar onde aconteciam os fatos; porém, os fatos em si, inclusive as coisas que ele ouvia e dizia, eram sempre iguais.
Ele não havia contado para ninguém o sonho até um dia de janeiro de 2019, quando teve, pela primeira vez, contato com as supostas cartas de padre Pio sobre os três dias de trevas. A semelhança era tão grande, que sentiu que precisava comentar o mistério que o havia acompanhado por tantos anos. Após contar o sonho, nunca mais voltou a tê-lo.
Descrição do sonho:
Sempre começava da mesma forma: o padre estava perto da porta de uma casa, do lado de fora, olhando para o céu. Em um determinado momento, o via avermelhado, mas em um tom diferente daquele do anoitecer ou do amanhecer. O sol estava próximo do horizonte. Havia como que fogo no céu, com coloração entre o vermelho vivo e o azul. Aquilo assemelhava-se a nuvens, mas de forma que nunca havia visto antes, pois parecia fogo.
Ouvia, então, o som de pássaros e os via, aos montes, voando em uma mesma direção. O céu escurecia rápido demais, como quando se prepara o tempo para uma tempestade. Neste momento, sempre havia alguém próximo que fazia a seguinte pergunta: “O que está acontecendo?” A resposta do padre também era sempre a mesma: “Está começando!” A sensação era de muito frio.
Após isso, ele via-se já dentro da casa. Estava fechando as janelas, com madeira, tábuas, cobertores e outros materiais. Os objetos que usava neste momento também variavam ao longo dos anos em que tinha o sonho, mas sempre estava fechando todas as aberturas do lugar. Dentro da casa, havia várias pessoas, todas conhecidas do padre, ajudando-o a fechar as janelas e portas e carregando comidas ou cobertas de um lado para outro. Sempre nesta parte do sonho alguém começava a questionar tudo: “Isto não é preciso! É um exagero! Já disseram na televisão que vai passar!” O padre sempre respondia com uma ordem para que continuassem fazendo o trabalho.
Dois detalhes aconteceram em todas as vezes em que teve o sonho: ele olhava seu reflexo em um dos vidros da janela e percebia seus cabelos e barba brancos, apesar de não parecer velho; e sempre que estavam terminando de fechar tudo, algum conhecido chegava na última hora e sentia-se grande alívio.
A sequência do sonho seguia igual. A partir dali, tudo ficava muito escuro. Ele não conseguia identificar o rosto de todos os que estavam na casa; o número parecia-lhe ser algo entre 20 e 30 pessoas. Acendia-se uma luz, sempre no centro. Na primeira vez em que sonhou, eram velas (umas cinco ou seis) grandes e pequenas colocadas no centro da sala. Em outras ocasiões, era uma lareira, mas sempre com velas na frente ou luzes de emergência, com velas também.
Enfim, a terceira parte do sonho se resume a isto: todos reunidos no escuro, com alguma pequena luz no meio. Todos estavam com o terço na mão. Alguém sempre dizia neste momento: “Está muito frio!” Sua resposta também era a mesma: “Já começou, melhor rezarmos e mantermos o silêncio”. Depois desse momento, vinha a pior parte do sonho.
Ele começava a ouvir barulhos como o de raios e trovões; às vezes, pareciam como que bombas estourando, vento forte e assovios. Pelas poucas frestas que restavam, era possível ver piscando as claridades desses raios ou bombas. Era difícil saber de onde ou do quê provinham os lampejos. O medo que se sentia era grande nessa hora. Sentia-se, pelo chão e pelas paredes, o tremor da casa.
A sequência seguia de modo perturbador. Começava-se a ouvir gritos e muito barulho do lado de fora, como se uma grande multidão estivesse correndo pelas ruas. Havia barulho de tiros, objetos quebrando, pessoas gritando e sons de animais, como de porcos, cavalos e bois. Padre Oliveira compara o que ouvia ao som do inferno.
Neste momento, alguém sempre se aproximava da janela, como que querendo espiar o que se passava no exterior da casa. O padre sempre se levantava rapidamente e dizia: “Fica longe das janelas, não olha para o lado de fora!”.
O sonho terminava sempre do mesmo modo: ele, reunido com algumas pessoas, ao redor de uma pequena luz, trancado em uma casa, com este inferno acontecendo do lado de fora, olhando para as velas. Sentado num banquinho pequeno, ficava dizendo para si mesmo: “Só precisamos suportar três dias. Em três dias, isso passará.”
Nunca sonhou além deste momento. Ou acordava antes, ou exatamente neste instante.
Misericórdia senhor, temos que permanecer, firme na fé,,e o padre oliveira está bem,ele tem 50 anos