Deus é a Verdade. Como devemos buscar Sua presença em tudo o que fazemos, dizemos e entendemos, o oitavo mandamento ordena não prestar falso testemunho.
Uma forma de ofender a verdade é cometendo o pecado de juízo temerário. Segundo o Catecismo, comete-o quem “admite como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral no próximo” (§ 2477). Para evitar esse pecado, é preciso “interpretar de modo favorável tanto quanto possível os pensamentos, as palavras e as ações do próximo” (§ 2488). Disse Santo Inácio de Loyola:
“Todo bom cristão deve estar mais inclinado a desculpar as palavras do próximo do que a condená-las. Se não é possível desculpá-las, deve-se perguntar-lhe como as entende; e se ele as entende mal, que seja corrigido com amor; e, se isso não bastar, que se procurem todos os meios apropriados para que, compreendendo-as corretamente, se salve.” (Exerc. Espirituais, 22)
A Igreja sempre foi muito prudente em seus juízos. Quando era julgado um herege, fazia-se longos inquéritos e, muitas vezes, o acusado tinha direito a um advogado pago pelo Estado. Nas disputas teológicas, o primeiro dever do debatedor era confirmar se havia compreendido o adversário corretamente, anunciando, em suas palavras, a proposição alheia, de modo a prosseguir o debate apenas após uma confirmação positiva. A caridade obriga-nos a considerar que tenhamos entendido mal o que o outro falou.
Fora dos pronunciamentos infalíveis, a Igreja reconhece que pode existir erro nos juízos e pastorais, muitos sendo posteriormente revertidos. Não é errado, portanto, entristecer-se com alguma decisão do Clero. Em 2021, o Papa Emérito Bento XVI leu, com dor no coração, a restrição à celebração da Missa Tridentina publicada pelo Papa Francisco, mas isso não significou nenhum rompimento entre os dois.
Se, até do Sumo Pontífice é lícito divergir, é óbvio que podemos discordar de um irmão. Entretanto, toda discordância deve partir de uma boa-vontade na compreensão da posição do próximo. Jesus Cristo ensinou-nos que, da forma como julgamos, seremos julgados, e pôs como quinto pedido do Pai-Nosso que Deus julgue nossas faltas assim como nós julgamos as dos outros. Quem condena com rigor está pedindo ao Senhor para ser condenado rigorosamente.
Por isso, a quinta bem-aventurança é a do misericordioso, porque é sendo dessa forma que se alcança a Misericórdia.
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